Cada dia que passa eu tenho novas lembranças dos meus momentos de crise. Dos momentos de mania, para ser mais específica. Nunca tive grandes períodos de depressão.
Passando por uma praça me lembro de um acontecimento em particular. Eu arrumei emprego em uma grande empresa, com um excelente salário. Me lembro até o valor: sete mil e quinhentos reais, com todos os benefícios como CLT.
Durei três meses neste emprego. Fui sumariamente demitida por não aparecer no trabalho todos os dias. Na época, eu estava em minha maior crise de mania: não pensava direito, estava eufórica, completamente fora da realidade e totalmente paranóica: eu não ia ao trabalho porque achava que estava sendo perseguida e que o trabalho poderia vir até mim.
Eu me sentava nesta praça, abria o caderno ou a agenda e escrevia, escrevia, escrevia. Escrevia sobre temas do trabalho, sobre temas da vida. Às vezes saia da praça para almoçar, às vezes não. Se alguém me telefonava durante o dia eu informava que o escritório era muito perto da janela. Como justificativa para o barulho de crianças, carros e pássaros à minha volta.
Nunca soube se meus empregadores da época perceberam o meu descontrole. Eles sabiam que havia algo errado comigo, mas julgaram que eu estava em uma crise de stress.
Hoje em dia convivo com um colega da época, que sempre me fala: você era outra pessoa.
Queria muito falar para ele: aquela pessoa não era eu.
Ou será que, em crise, nós assumimos a nossa verdade identidade? Sem pudores e responsabilidades?